Resumo | Este estudo possui como tema o criminoso, a partir da figuração de personagens criados pela literatura e pelo cinema, no fim do século XX e início do século XXI, mais especificamente entre os anos de 1997 e 2002. Embasam esta reflexão as perspectivas teóricas da “dizivisibilidade” (ALBUQUERQUE, 2001) e do “direito à narrativa” (BHABHA, 2003) que os grupos minoritários têm buscado na contemporaneidade. Como corpus de análise, selecionamos quatro personagens bastante discutidos e visibilizados nos ambientes da comunicação e da cultura, e que alcançaram um grande público nesse período: Zé Pequeno (Cidade de Deus, 1997, Paulo Lins), Rael (Capão Pecado, 2000, Ferréz), Zé Pequeno (Cidade de Deus, 2002, Fernando Meirelles) e Sandro (Ônibus 174, 2002, José Padilha). Todos têm em comum o fato de, hoje, serem conhecidos do grande público e de serem criminosos considerados “irreparáveis”. Interessa-nos, então, entender como esses personagens foram construídos, de modo a reiterar ou rasurar o estereótipo do “sujeito hediondo”, já implantado no imaginário por outros discursos da cultura e da política brasileira. Para fazê-lo, chamamos também à baila outras produções discursivas, como músicas, fotografias, trechos de jornais, textos de blogs e redes sociais, para entrever esses sujeitos na teia de suas ramificações narrativas. |