Resumo | A passagem meteórica de Alberto Cavalcanti pelo país foi marcada pordesavenças e muitas críticas, mas intenciona-se neste estudo destacar a contribuição que sua experiência com o cinema sonoro trouxe para os filmes brasileiros. Se no Brasil pouco se comentava sobre o papel do som na construção da linguagem cinematográfica, Cavalcanti, ao contrário, teorizava sobre o assunto. Suas ideias sobre os três elementos que compõem o som cinematográfico - a palavra, a música e os ruídos - foram empregadas nos filmes Terra é sempre terra (Vera-Cruz, 1951) e O Canto do Mar (Kino Filmes, 1952/53), ambos produzidos por ele e com música original de Guerra-Peixe. O principal objetivo desta investigação é analisar a aplicação das concepções de Cavalcanti e as contribuições do compositor na elaboração das trilhas sonoras dos referidos filmes. Além das duas produções brasileiras, foram analisadas as opiniões do cineasta publicadas em artigos, entrevistas e no livro Filme e Realidade, assim como as características musicais de Guerra-Peixe e aspectos de suas pesquisas sobre a música popular e folclórica do Nordeste do país. Sobre as proposições de Cavalcanti, os resultados indicam, entre outros, a exploração das possibilidades simbólicas, tonais e expressivas dos ruídos. Em relação à trilha musical de Guerra-Peixe, averiguou-se ser rica, variada e relacionada de maneira estreita com a narrativa e com os demais elementos sonoros. Observou-se, ainda, o aproveitamento de manifestações musicais nordestinas no filme O canto do mar, conforme assinaladas nas anotações musicológicas do compositor. |